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Bandas Filarmónicas do concelho um exemplo de resiliência e superação

Tive já oportunidade, em artigo publicado neste Jornal, de realçar o elevado nível de associativismo existente no concelho de Seia, representado nas cerca de 100 associações existentes, abrangendo um amplo espectro de atividades: culturais, desportivas, musicais, religiosas ou sociais e que contribuem de forma bastante meritória para o prestígio e desenvolvimento do nosso concelho.

Sem pretender efetuar qualquer discriminação relativamente aos outros tipos de associações existentes proponho, no presente artigo, efetuar uma reflexão mais pormenorizada acerca das Bandas Filarmónicas e Sociedades Musicais existentes no concelho de Seia (como declaração de interesse refiro que tive oportunidade de já ter sido Presidente da Direção e também da Assembleia Geral de uma destas instituições: a Filarmónica 1º de Janeiro de Carragosela, freguesia de que sou natural).

As Sociedades Musicais/Bandas Filarmónicas atualmente existentes no concelho de Seia, de acordo com o site da Câmara Municipal, são as seguintes:

  • Sociedade Musical Estrela da Beira, Santa Marinha, fundada em 1846;
  • Filarmónica 1º de Janeiro, Carragosela, fundada em 1872;
  • Sociedade Recreativa e Musical Loriguense, Loriga, fundada em 1906;
  • Banda Torreselense Estrela D’Alva, Torroselo, fundada em 1908;
  • Academia de Santa Cecília, S. Romão, fundada em 1951
  • Orquestra Juvenil da Serra da Estrela, Seia, fundada em 1997
  • Associação Musical e Juvenil de Tourais, Tourais, fundada em 2001

Uma constatação que desde logo se retira é que a maioria das associações musicais em atividade no concelho existem há mais de 100 anos pelo que, seguramente, o gosto pela música e pela cultura popular dos habitantes das diversas localidades de origem das Filarmónicas constitui um elemento fundamental para que estas associações tenham conseguido sobreviver até aos nossos dias.

Na época em que surgiram as primeiras Filarmónicas no concelho, bem como durante as décadas seguintes, os tempos eram bastante duros quer pela grande dificuldade em obter fundos financeiros para adquirir instrumentos musicais e fardamentos, quer também pelo facto de as deslocações para abrilhantar as várias festividades: festas religiosas e arraiais, se fazerem a pé, muitas vezes para distâncias longas e suportando adversidades climatéricas.

Foi necessária muita resiliência para ultrapassar a 1ª e a 2ª guerras mundiais, tendo algumas coletividades interrompido as suas atividades durante alguns períodos, mas a vontade e o gosto pela música das populações, em conjugação com a generosidade de alguns beneméritos, fez com que as mesmas voltassem a ser retomadas.

Na década de 60 e primeira metade da década de 70 do século passado as Bandas Filarmónicas sofreram também bastantes dificuldades com a emigração de muitos dos seus músicos para as ex-colónias portuguesas ou para a Europa o que, em alguns casos, levou também à suspensão da atividade. No entanto, mais uma vez, logo que reunidas condições mínimas, o amor à cultura musical e às suas terras, levou as populações a reorganizar as suas Bandas de Música e a garantir a sua continuidade.

As Filarmónicas, no final do século passado e início deste século, começam a dar uma ainda maior atenção às suas Escolas de Música captando jovens de ambos os sexos para a aprendizagem da música, sendo essa a principal fonte de integração das mulheres nas Bandas de música, situação que importa enaltecer.

A cada vez maior desertificação do interior e o envelhecimento da população são os mais recentes desafios que se colocam às Bandas de música que, mais uma vez, estão a encontrar forma de os superar.

Para ultrapassar o desafio da falta de recursos humanos a nível da localidade de origem, as Filarmónicas desenvolvem um trabalho de recrutamento junto de localidades vizinhas garantindo aos alunos transporte e ensino da música gratuitos o que é, sem dúvida, um serviço público digno do maior realce.

Uma palavra de apreço também para a grande evolução na qualidade musical da generalidade das Filarmónicas, que deriva muito do facto de terem quer na sua regência, quer na orientação das Escolas de Música, profissionais cada vez mais qualificados.

A resiliência perante as dificuldades e a superação de todos estes desafios também não teria sido possível sem a inteligência, esforço e altruísmo de sucessivas lideranças que, através dos respetivos órgãos sociais, se dedicaram e continuam a dedicar de forma abnegada ao desenvolvimento destas instituições.

As Bandas Filarmónicas assumem hoje, indubitavelmente, um importante papel de divulgação do concelho de Seia e constituem um fator de desenvolvimento cultural das populações, preservação de tradições e densificação de relações sociais devendo, portanto, ser enaltecidas e apoiadas.

As Juntas de Freguesia dos territórios em que as Bandas Filarmónicas se localizam devem ter uma especial atenção no seu estímulo, apoio, manutenção e desenvolvimento e a Câmara Municipal deve garantir a manutenção e reforço dos apoios a estas associações, por forma a contribuir para a sua viabilidade financeira, nomeadamente prosseguindo e incrementando a política anual de subsídios, incorporando também como critério dessa política o elevado interesse que as Escolas de Música representam.

Estas coletividades envolvem um número muito significativo de pessoas, que vão desde os executantes, aos associados e órgãos sociais, merecendo, para além do nosso sincero agradecimento, também a nossa homenagem e reconhecimento.

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