Num destes domingos, ao início da tarde, fomos parar ao Viveiro das Trutas do Aguincho.
Saindo de Seia, em direção a Loriga, passamos Alvoco da Serra, Outeiro da Vinha, Vasco Esteves de Baixo, cortando-se logo adiante, à direita para o Aguincho, em curta estrada labiríntica e apertada.
Chegados a um lugar paradisíaco, de verde e água cristalina, não havia ninguém, até que em minutos chega, como de um conto de fadas um homem daquele lugar. De seu nome “Manel”, Manuel Brito, já de há muitos anos conhecido, que nos começou por tecer memórias desta sua aventura, em 1991 e que mais tarde veio a passar ao irmão, Carlos. Pelo meio, ainda recordou as grandes enxurradas de 2006, que destruíram quase irredutivelmente o “paraíso”. Mas a força e determinação de ambos, levou a deitar mãos à obra, recuperando o lugar e o sonho.
Um viveiro, um lago, uma casa e uma ampla esplanada, são os elementos do cenário, num lado fundo, rodeado de verde e xisto.
Um viveiro, um lago, uma casa e uma ampla esplanada, são os elementos do cenário, num lado fundo, rodeado de verde e xisto.
Seguia a conversa, na tarde quente de início de setembro, com o Manel e nós, até que chega Maria, Maria da Anunciação, de 78 ou 79 anos, que não soube precisar ao certo. Soube contudo dizer que vem da Teixeira e vai, subindo e descendo, dia-sim, dia-sim, sempre em força, cheia de garra, determinada, alegre e bem disposta, porque “tratar do campo dá-lhe ganas e vida”.
Até que à conversa se vai juntando Carlos Brito, o proprietário, homem de 7 ofícios, em tempos emigrado na Suíça. De menos conversa, Maria, sua esposa, vai tratando de atender ao bar e de preparar “as coisas” na cozinha.
Assim se vai percebendo a geografia do lugar e a faina ao redor, até que vão chegando turistas para pescar e lanchar. Em pouco tempo eram mais de 30 pessoas. “Mas agora já não vem tanto, em agosto, não tínhamos mãos a medir, diariamente”, garante Carlos.
Canas de pesca prontas para os que chegam e têm dotes de pescadores.
Ali pode pescar-se, e comprar-se. E ver, ver muita truta.
Encostadas a um canto da casa, junto ao lago, estão várias canas de pesca prontas para os que chegam e têm dotes de pescadores. Ali pode pescar-se, e comprar-se. E ver, ver muita truta, nos poços mais acima. Chegam a ser mais de 10 mil trutas, agora estão menos, porque o Verão está a terminar.
Defronte à casa, as mesas da esplanada, cada vez mais ocupadas, estão prontas para os petiscos das trutas, já que da cozinha, na extremidade da casa, começa a vir o cheiro. E para lanche não está mal, duas trutas para cada um, batata cozida, tomate caseiro e um pratinho de feijão manteiga, bem regados a vinho e outras bebidas. Produtos desta terra de socalcos, de produção própria. E ainda com direito a sobremesa e café.
Àquela hora, já uns vão comendo e outros pescando, enquanto se suspira de satisfação, longe do stress diário e ante um clima relaxante, numa natureza esplendorosa.
“Aqui recebemos gente todo o ano, mas agora no Verão é mais, muito mais”, diz Carlos, que teve de deixar alguns “ofícios” para se dedicar mais ao lugar e ao negócio.
São lugares assim, que nos fazem bem, tão bem que nos ficam na memória por muito tempo.
Mário Branquinho