Jornal do Concelho de Seia e Região
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O Medo Não Vota, Mas Manda Muito Três Votos, Uma Voz – A Tua

Diz-se que a democracia se faz de vozes, opiniões e debate aberto. Diz-se. Mas se a democracia é, como diria Abraham Lincoln, “o governo do povo, pelo povo e para o povo”, então em Seia parece mais um governo sobre o povo, apesar do povo e longe do povo.

A percepção que tenho, pelo que leio na imprensa, vejo nas redes sociais e ouço em conversas com amigos, não é que as pessoas estejam silenciadas – mas apenas sussurram. Murmúrios. Aquele falar em surdina, onde se dizem verdades baixinho. Ou seja, não é por falta de opiniões. É por excesso de receios.

Porquê? Porque há sempre um fantasma a pairar sobre as conversas: o medo das represálias, das portas que se fecham, dos favores que não chegam. Fico com a impressão de que, em Portugal e em Seia, a liberdade de expressão não está bem de saúde – talvez esteja com febre, de cama, embrulhada numa manta, a tomar chá de limão e à espera que ninguém repare muito nela. Não é que não se possa falar, mas há um entendimento tácito de que convém não dizer demasiado alto.

Afinal, nunca se sabe quando se vai precisar de uma ajudinha da câmara, de um subsídio para uma associação, ou de uma licença aprovada sem demasiadas burocracias. E quando se vive num concelho pequeno, onde quase todos se conhecem, a política transforma-se num jogo de equilíbrios: se falas de mais, ficas marcado. E quem é que quer ficar marcado? Ninguém, claro! O risco de expressar uma opinião pode ser tão grande que mais vale aplicar a velha estratégia da sobrevivência rural: “não te metas nisso”.

Também me disseram para não me meter nisto de escrever artigos. “Para quê?” – dizem-me. “Já sabes como isto funciona.” Pois sei. E é por isso mesmo que escrevo. Porque já chega de funcionar assim. “ – ouvindo bem, parecia quase um aviso, um reflexo de resignação coletiva. Mas, sinceramente, acho que precisamos mesmo todos de nos meter nisto, de arregaçar as mangas e participar ativamente!

Este ano, Portugal vai a votos três vezes: legislativas, autárquicas e presidenciais. Três oportunidades. Três momentos em que podemos, e devemos, dizer o que queremos para o país e para os nossos concelhos. E, mesmo que tudo em nós diga que não vale a pena, temos de resistir a esse impulso.

Sim, sabemos que não ajuda ver um chefe de gabinete do ex. primeiro-ministro (António Costa) com 75 mil euros em notas escondidas em garrafas, ou uma pen com segredos de Estado esquecida num cofre. Não ajuda ver o primeiro-ministro atual (Luís Montenegro) com uma empresa de família a faturar com um grupo de casinos. Tudo dentro da legalidade, gritam as claques partidárias. Mas o cheiro da promiscuidade é mais forte do que o perfume da legalidade.

E é por estas e por outras que muitos desistem. Que encolhem os ombros. Que dizem “são todos iguais”. Mas se desistirmos, entregamos a coisa pública aos mesmos de sempre. Aos que contam com o nosso silêncio para manter tudo como está.

O problema deste clima de receio é que mina a essência da democracia. Porque uma democracia verdadeira não se constrói no medo, mas sim na participação ativa dos cidadãos. Uma democracia morre não quando se grita demasiado, mas quando se cala de mais.

Portugal e já agora Seia, precisa de mais vozes e menos sussurros. Precisa que se fale alto e claro. Que se discuta, que se participe que se concorde ou discorde. Que se exija. Como bem disse Voltaire: “Julgo o homem mais pela sua capacidade de questionar do que pela sua capacidade de concordar.”

Governar de forma inteligente não é calar a crítica, é aproveitá-la para melhorar.

Não falo de partidos. Falo de cidadãos. De todos nós. Se queremos mudança, temos de sair da plateia e subir ao palco. Mesmo que o cenário esteja gasto e o guião seja velho.

Porque quando ninguém questiona, ninguém propõe. E quando ninguém propõe, os de sempre continuam a decidir por todos. Sempre pelos mesmos. E nunca para os outros.

Por isso, meus caros, vamos lá pôr fim ao encolhimento de ombros cívico e à dieta líquida de opiniões. Está na hora de deixar os sussurros para os confessionários e usar a voz de peito – mesmo que desafinada! Que se lixe o medo, o favor adiado ou o subsídio que nunca vem: a democracia não é uma festa só para convidados. Participem, falem, votem, opinem, irritem-se, proponham – nem que seja só para poderem dizer “eu avisei” quando tudo correr mal. Porque, se continuarmos a deixar isto entregue aos mesmos de sempre, o guião não muda. E já nem as estátuas têm paciência para ver este filme outra vez.

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